3.20.2014

Stronger Than Death / Capítulo 1 - Sobreviventes


Kylie
      Fazia cerca de duas horas que eu havia embarcado. Ouvia músicas tranquilamente e algumas vezes a cantarolava. A sensação de que em poucas horas veria minha avó e meu avô me contagiava a cada minuto que passava. Eu mal podia esperar para poder chegar em Londres e comer a deliciosa comida de minha avó. Eu nunca entendo o motivo de algumas vezes, a comida da nossa avó ser a melhor. Mas entre minha mãe e minha avó, as duas empatam. Ambas são ótimas na cozinha e fazem uma lasanha de dar água na boca.

      Com todos esses pensamentos, acabei sentindo uma imensa fome. Já era a hora do almoço, e para a minha sorte, as aeromoças já estavam servindo o mesmo. Comi, e continuei ouvindo as músicas que tocavam. Eu não conhecia muitas, mas sabia o suficiente para poder estar bem atualizada quando o assunto é música. Cansada, acabei fechando os olhos bem devagar e adormeci. Me arrependi de ter dormido, pois acordei na pior hora possível.

      - Senhores passageiros, mantenham-se a calma! Estamos sob uma tempestade e teremos de um lugar para pousar. Faremos de tudo para que vocês cheguem em Londres sãos e salvos. – Disse o piloto. Algumas pessoas estavam assustadas com a chuva e a quantidade de raios.

      Estava perto da janela, e via perfeitamente o quanto o céu estava escuro e chovia muito forte. Era a primeira vez que andava de avião, e a experiência até o momento não estava sendo nada agradável. Ouvi um raio cair perto de minha janela e atingir um dos motores do avião, que instantaneamente começou a pegar fogo. Não sabia se gritava ou me certificava de que aquilo não passava de um pesadelo.

      As pessoas começaram a gritar quando sentiram que o avião perdia altitude muito rápido. Olhei pela janela e vi que um dos motores do avião realmente estava pegando fogo. E mesmo chovendo, o fogo não abaixava. Algumas pessoas gritavam quando viram outro raio atingir o outro motor. Dessa vez não tinha jeito, o avião iria cair querendo o piloto ou não. Crianças choravam e pessoas corriam a procura de algo que pudesse amortece-las quando o avião tivesse encontro com o chão, mas nada encontravam.

      - Eu quero a minha mãe! – Uma garotinha de aproximadamente sete anos gritava, mas não teve respostas. Algumas pessoas pisavam em suas pequenas mãos e ela se afastou um pouco mais. Fui até a menina e a vi chorando, chamando sua mãe que provavelmente deveria estar correndo desesperada ao invés de proteger a filha.
      - Não chore! Eu vou proteger você! – Garanti a pequena. – Não vou deixar que nada de ruim aconteça com você, menina. Me abraça bem forte e não me larga de jeito nenhum. – Obedecendo-me, ela me abraçou e fechamos os olhos ao sentir o avião se chocando contra o chão. E então eu percebi que não era um pesadelo.
***
      Por um momento, eu achei que havia morrido. E como se eu tivesse ressuscitado, eu abri meus olhos e vi a claridade do sol. O avião havia caído numa floresta. Lembro-me de ter quebrado o vidro da janela antes de sentir o avião se chocando contra o chão e ter pulado com a menina. Ela estava em meus braços. Abraçada comigo e com alguns arranhões. Senti sua respiração fraca e a vi abrir os olhos.

      - Está viva! – Sussurrei. – Você está bem, menina? – Ela assentiu.
      - Como você se chama? – Ela sussurrou de volta. – E onde está a minha mamãe?
      - Me chamo Kylie. E infelizmente, a sua mão está dormindo no reino dos céus – A respondi olhando para o lado. Onde destroços do avião estava por toda a parte e várias pessoas estavam mortas. Não sie ao certo se foram só eu e a pequena que sobrevivemos.
      - Eu me chamo Vitória. – Ela sussurrou. – E te agradeço por ter sido a única que se importou comigo quando eu mais precisei. – Sorri. – Você é a minha anja da guarda.
      - E serei até quando estivermos bem. Agora, vamos aguardar o momento em que forem nos resgatar. – Beijei o topo da cabeça de Vitória. Ela sorriu e se aconchegou mais em meus braços. Ela provavelmente iria dormir novamente.
      - Acha que vão trazer a minha mamãe de volta do reino dos céus? – Ela perguntou. Tão inocente e agora provavelmente órfã. – Ou você acha que ela vai querer ficar com o papai? – Dei um suspiro.
      - Eu não sei, pequena. Eu não sei.

Uma hora e meia depois...
      Duas estão vivas! Vitória acordou após o grito do bombeiro que veio resgatar os sobreviventes. E pelo que eu entendi, apenas eu e a pequena ao meu lado estávamos vivas. Olhei para o homem e ele levantou Vitória, mas ela estava com dificuldades em andar. Um médico, desceu do helicóptero e deu uma olhada na perna de Vitória, ele disse que ela havia quebrado a mesma e que teria de fazer alguns exames para ver se fraturou mais algum osso.

      - Eu não vou fazer sem a Kylie. – Ela disse. Implorando ao médico para deixar-me ir com ela.
      - Tudo bem, Vitória. De um jeito ou de outro, eu terei de ir com você até o hospital. Sou sua anja da guarda, lembra? – Ela assentiu. O bombeiro ajudou-me a levantar, mas eu não conseguia sentir as minhas pernas e muito menos conseguia me equilibrar.
      - Parece que vamos ter que fazer uma bateria de exames em você também. – Afirmou o médico.
      - Onde nós estamos?
      - Numa ilha no meio do mar. O país mais próximo é a Inglaterra, vamos levar vocês duas pra Londres e tentar procurar mais sobreviventes. – O médico respondeu.
      - Sabe me dizer se tem algum familiar que está à procura de parentes que estavam no avião e sobreviveram? – Perguntei.
      - Apenas dois idosos. – Dei um suspiro. Eram meus avós.

      Dois bombeiros desceram do helicóptero. Um pegou Vitória no colo e o outro ajudou o primeiro bombeiro a me ajudar a ir até o helicóptero. Havia bastante espaço para ele pousar, o que facilitou o nosso resgate. Me colocaram deitada numa maca e Vitória ao meu lado. Ela esticou sua pequena mão até a minha e segurou a mesma. Sussurrei que tudo ficaria bem e vi lágrimas caírem de seus olhos. Ela disse que tudo que mais queria era estar com a sua mãe. Senti um aperto no coração ao ouvir essas palavrinhas.

      Ela acreditava que sua mãe voltaria, mas eu não tinha tanta certeza disso. Vi várias pessoas mortas e pedaços do avião por toda parte. Eu e vitória tivemos sorte de ter pulado do avião antes dele cair e explodir com várias pessoas lá dentro. Com o impacto da queda, Vitória quebrou sua perna e eu ainda não sei o que houve com as minhas.

      - Senhorita, alguns cacos de vidro estão por toda a sua perna e infelizmente os cortes foram profundos. A viagem até Londres não será longa, e quando chegarmos no hospital, teremos de fazer uma cirurgia em sua perna o mais depressa possível para poder retirar os pedaços de vidro. Aconselho descansar. – Disse uma enfermeira. Assenti e tentei dormir um pouco.
***
      - Kylie? Kylie está me ouvindo? – Minha visão estava um pouco embaçada. Eu apenas conseguia ver a silhueta de três pessoas ao meu redor e ouvir suas vozes. Quem estava me chamando provavelmente era minha avó, e seu tom de voz era preocupante. Ela parecia ter chorado durante uma noite inteira e eu também conseguia ouvir meu vô chorando, sua situação não era diferente.
      - Vovó Marie? Vovô Robert? – Perguntei. Minha visão começou a voltar ao normal e os vi assentindo com a cabeça. Perto deles estava o médico no qual havia resgatado Vitória e eu. – Onde está Vitória? – Perguntei desesperada. Eu prometi a ela que a protegeria.
      - Acalme-se. Ela está bem. Diferente de você, ela apenas quebrou a perna e terá de fazer fisioterapia caso queira que o osso volte ao lugar mais rápido. Já você as notícias não são tão boas?
      - O que eu tenho? – Perguntei. Ele negou a cabeça e meus avós começaram a chorar novamente.
      - Infelizmente você perdeu o movimento das pernas. – Senti lágrimas teimosas caírem de meus olhos e fazer-me chorar descontroladamente. Isso não podia estar acontecendo, não comigo. – Na sua cirurgia, conseguimos tirar alguns cacos de vidros que estavam em sua perna direita. Mas alguns estavam tão fundos que infelizmente não conseguimos retirá-los. Vão inflamar, e você terá de fazer a cirurgia novamente.
      - Me diga doutor, eu irei voltar a andar? – Ele fez uma expressão de tristeza.
      - Infelizmente há setenta por cento de chance de você não conseguir mais andar. – Eu não conseguia acreditar em suas palavras, parecia que elas estavam me dando socos. E eu, indefesa, não podia fazer nada. – Não se preocupe. Eu não disse que você não podia voltar a andar. A senhorita pode fazer uma fisioterapia para tentar voltar a andar. Pode demorar, mas se acreditar, irá voltar a andar em breve.
      - Isso é muito bom. Mas eu tenho mais chances de passar o resto da vida em uma cadeira de rodas do que andar novamente.
      - Não perca as esperanças, ela é a última que morre. Vou deixar você e sua família a sós, tenho de fazer mais alguns exames na menor. – E então, ele saiu. Eu estava acabada. Para mim, descobrir que provavelmente eu não poderei mais andar era o fim do mundo. Minha paixão era minhas pernas.
      - Não desanime. – Disse minha vó. – Você podia ter morrido.
      - Mas eu não morri. E eu agradeço por isso. – A respondi. – Mas eu acho que eu só sobrevivi por causa de Vitória. Eu a vi chorando e gritando pela mãe, e ela não tinha resposta alguma. Quando eu olhei pra ela, eu lembrei do dia em que me perdi naquele assalto quando tinha a idade dela. E mesmo tendo colocado o movimento das minhas pernas em risco, eu pulei daquela janela com ela no colo.
      - Deve ter sido o impacto, querida. O avião deveria ainda estar muito alto. – Vovó Marie passou suas mãos pelos meus cabelos e beijou o topo de minha testa.
      - Eu não quero ficar presa em uma cadeira de rodas, vovó.
      - Sei que eu não deveria, mas eu quero te levar para mostrar-lhe uma coisa. Prometo que será bem rápido e que não irei força-la a ficar na cadeira por muito tempo. – Disso vovô.
      - Contando que eu não fique deitada nessa cama, eu aceito. – Ele sorriu.

      Vovô pegou uma cadeira de rodas e com cuidado, me ajudou a sentar na cadeira. Embora eu não queria aquilo para meu futuro, era isso o que eu teria de enfrentar, querendo ou não. Ele foi empurrando a mesma por todos os lugares do hospital, mostrando-me que várias pessoas estão passando por coisa pior do que eu, e mesmo assim, elas tem de seguir em frente e encarar a realidade. Ele parou em um tipo de jardim que tinha no hospital. As pessoas que faziam tratamento conversavam em si, e as crianças com algum tipo de doença brincavam como se não tivessem nada de diferente.

      - Está vendo? Embora tenham doenças ou estão como você, eles são felizes e encaram isso na maior naturalidade. Se eles não tivessem fé, eles não estariam aqui para contar histórias. E eu não quero ver você sofrendo e desacreditando que um dia vai andar novamente.
      - Eles são tão felizes. Mais felizes do que pessoas que não tem absolutamente nenhum tipo de deficiência ou doença.
      - E eu e seu avô queremos ver você assim. Feliz e acreditando que vai voltar a andar. Não é o fim do mundo Kylie. – Vi Vitória conversar com algumas crianças e apontar para mim. Eu sorri ao vê-la feliz.
      - Eu e seu avô precisamos conversar com o neto de um amigo dele, voltamos daqui alguns minutos. – Assenti e fiquei olhando para Vitória enquanto eles iam até esse neto do tal amigo do vovô. Fiquei minutos vendo essas pessoas felizes com o que tem e eu reclamando de que não seria mais a mesma. Talvez eu devesse seguir o exemplo delas. Vi um garoto se aproximar lentamente de mim. Ele tinha cabelos cacheados, e pelo que deu pra mim perceber, seus cabelos estavam crescendo.
      - Você é Kylie? A garota que salvou uma menina de sete anos dum acidente de avião? – Assenti. – Prazer, eu me chamo Harry. – Nada respondi, como sempre. – Pelo visto não é muito de falar com as pessoas. Não precisa ter medo, eu não vou zoar você sobre estar numa cadeira de rodas como algumas pessoas faze.
      - Assim eu espero. – Finalmente o respondi. – A quanto tempo está aqui?
      - Faz alguns anos. Eu sei, é muito tempo. Mas eu estou lutando contra um câncer que descobri ter quando tinha treze anos. Se eu tivesse desistido, estaria morto. Mas aqui estou eu, vivo e falando com você.
      - É deu pra perceber. – Sei que fui meio rude. Mas eu não gosto muito de falar com estranhos.
      - Achei incrível a sua atitude pra salvar aquela menina. Ela está contando essa história para as crianças daqui, e ela disse que te considera uma anja da guarda.
      - É, eu sei. – Suspirei. – Ela acredita que a mãe dela vai voltar. E eu simplesmente não sei o que dizer quando ela me fala isso.
      - Ela um dia vai entender que ela nunca vai voltar. – Ele respondeu. – Sei que eu não tenho a sua confiança e muito menos te conheço. Mas queria que você conhecesse a minha princesinha. Creio que você irá gostar dela.
      - Eu não sei não. Estou esperando meus avós e se eu sair assim do nada eles vão ficar preocupados.
      - Te trarei de volta. É rápido. Eu só quero que ela conheça mais alguém além de mim. Sabe, não é todo mundo que eu levo para conhece-la.
      - Você me convenceu eu vou. – Ele sorriu e pediu permissão para empurrar a cadeira. Assenti. – Harry. – Ele olhou pra mim. – Como vocês conseguem ser felizes sabendo que podem nunca mais serem os mesmos.
      - Nós apenas acreditamos que vamos voltar a ser o que éramos. Já vi muitas pessoas voltarem pra casa curado como também já vi muitas pessoas morrerem. Eu acredito que vou vencer o câncer, e você? Acredita que vai vencer a paralização das suas pernas?

5 comentários:

  1. Uuuuuuuuuuhuuuuuuuuuu

    AMEI QUERIDA!!!!!

    FICOU DEMAIS.

    XD

    XOXOXO

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  2. É incrível, sempre que eu leio "câncer" eu me lembro de ACÉDE, impressionante.

    Adorei, Sté-chan!

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    1. Adorei o apelido!
      E a minha fanfic não é nada comprada a sua

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    2. Minhas fics são horríveis, Sté-chan!

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  3. Cara que top, ela é uma heroína, espero que ela acredite nela mesma e que possa desenvolver o movimento das suas pernas novamente,continua please,adorei
    xoxo Duda

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