Kylie
Fazia cerca de duas horas que eu havia embarcado. Ouvia músicas tranquilamente e algumas vezes a cantarolava. A sensação de que em poucas horas veria minha avó e meu avô me contagiava a cada minuto que passava. Eu mal podia esperar para poder chegar em Londres e comer a deliciosa comida de minha avó. Eu nunca entendo o motivo de algumas vezes, a comida da nossa avó ser a melhor. Mas entre minha mãe e minha avó, as duas empatam. Ambas são ótimas na cozinha e fazem uma lasanha de dar água na boca.
Com todos esses pensamentos, acabei sentindo uma imensa fome. Já era a hora do almoço, e para a minha sorte, as aeromoças já estavam servindo o mesmo. Comi, e continuei ouvindo as músicas que tocavam. Eu não conhecia muitas, mas sabia o suficiente para poder estar bem atualizada quando o assunto é música. Cansada, acabei fechando os olhos bem devagar e adormeci. Me arrependi de ter dormido, pois acordei na pior hora possível.
- Senhores passageiros, mantenham-se a calma! Estamos sob uma tempestade e teremos de um lugar para pousar. Faremos de tudo para que vocês cheguem em Londres sãos e salvos. – Disse o piloto. Algumas pessoas estavam assustadas com a chuva e a quantidade de raios.
Estava perto da janela, e via perfeitamente o quanto o céu estava escuro e chovia muito forte. Era a primeira vez que andava de avião, e a experiência até o momento não estava sendo nada agradável. Ouvi um raio cair perto de minha janela e atingir um dos motores do avião, que instantaneamente começou a pegar fogo. Não sabia se gritava ou me certificava de que aquilo não passava de um pesadelo.
As pessoas começaram a gritar quando sentiram que o avião perdia altitude muito rápido. Olhei pela janela e vi que um dos motores do avião realmente estava pegando fogo. E mesmo chovendo, o fogo não abaixava. Algumas pessoas gritavam quando viram outro raio atingir o outro motor. Dessa vez não tinha jeito, o avião iria cair querendo o piloto ou não. Crianças choravam e pessoas corriam a procura de algo que pudesse amortece-las quando o avião tivesse encontro com o chão, mas nada encontravam.
- Eu quero a minha mãe! – Uma garotinha de aproximadamente sete anos gritava, mas não teve respostas. Algumas pessoas pisavam em suas pequenas mãos e ela se afastou um pouco mais. Fui até a menina e a vi chorando, chamando sua mãe que provavelmente deveria estar correndo desesperada ao invés de proteger a filha.
- Não chore! Eu vou proteger você! – Garanti a pequena. – Não vou deixar que nada de ruim aconteça com você, menina. Me abraça bem forte e não me larga de jeito nenhum. – Obedecendo-me, ela me abraçou e fechamos os olhos ao sentir o avião se chocando contra o chão. E então eu percebi que não era um pesadelo.
***
Por um momento, eu achei que
havia morrido. E como se eu tivesse ressuscitado, eu abri meus olhos e vi a
claridade do sol. O avião havia caído numa floresta. Lembro-me de ter quebrado
o vidro da janela antes de sentir o avião se chocando contra o chão e ter pulado
com a menina. Ela estava em meus braços. Abraçada comigo e com alguns
arranhões. Senti sua respiração fraca e a vi abrir os olhos.
- Está viva! – Sussurrei. – Você está
bem, menina? – Ela assentiu.
- Como você se chama? – Ela sussurrou
de volta. – E onde está a minha mamãe?
- Me chamo Kylie. E infelizmente,
a sua mão está dormindo no reino dos céus – A respondi olhando para o lado.
Onde destroços do avião estava por toda a parte e várias pessoas estavam
mortas. Não sie ao certo se foram só eu e a pequena que sobrevivemos.
- Eu me chamo Vitória. – Ela sussurrou. – E te agradeço por
ter sido a única que se importou comigo quando eu mais precisei. – Sorri. –
Você é a minha anja da guarda.
- E serei até quando estivermos bem. Agora, vamos aguardar o
momento em que forem nos resgatar. – Beijei o topo da cabeça de Vitória. Ela
sorriu e se aconchegou mais em meus braços. Ela provavelmente iria dormir
novamente.
- Acha que vão trazer a minha mamãe de volta do reino dos
céus? – Ela perguntou. Tão inocente e agora provavelmente órfã. – Ou você acha
que ela vai querer ficar com o papai? – Dei um suspiro.
- Eu não sei, pequena. Eu não sei.
Uma
hora e meia depois...
Duas estão vivas! Vitória acordou após o grito do bombeiro que veio
resgatar os sobreviventes. E pelo que eu entendi, apenas eu e a pequena ao meu
lado estávamos vivas. Olhei para o homem e ele levantou Vitória, mas ela estava
com dificuldades em andar. Um médico, desceu do helicóptero e deu uma olhada na
perna de Vitória, ele disse que ela havia quebrado a mesma e que teria de fazer
alguns exames para ver se fraturou mais algum osso.
- Eu não vou fazer sem a Kylie. –
Ela disse. Implorando ao médico para deixar-me ir com ela.
- Tudo bem, Vitória. De um jeito
ou de outro, eu terei de ir com você até o hospital. Sou sua anja da guarda,
lembra? – Ela assentiu. O bombeiro ajudou-me a levantar, mas eu não conseguia
sentir as minhas pernas e muito menos conseguia me equilibrar.
- Parece que vamos ter que fazer
uma bateria de exames em você também. – Afirmou o médico.
- Onde nós estamos?
- Numa ilha no meio do mar. O
país mais próximo é a Inglaterra, vamos levar vocês duas pra Londres e tentar
procurar mais sobreviventes. – O médico respondeu.
- Sabe me dizer se tem algum
familiar que está à procura de parentes que estavam no avião e sobreviveram? –
Perguntei.
- Apenas dois idosos. – Dei um
suspiro. Eram meus avós.
Dois bombeiros desceram do
helicóptero. Um pegou Vitória no colo e o outro ajudou o primeiro bombeiro a me
ajudar a ir até o helicóptero. Havia bastante espaço para ele pousar, o que
facilitou o nosso resgate. Me colocaram deitada numa maca e Vitória ao meu lado.
Ela esticou sua pequena mão até a minha e segurou a mesma. Sussurrei que tudo
ficaria bem e vi lágrimas caírem de seus olhos. Ela disse que tudo que mais
queria era estar com a sua mãe. Senti um aperto no coração ao ouvir essas
palavrinhas.
Ela acreditava que sua mãe
voltaria, mas eu não tinha tanta certeza disso. Vi várias pessoas mortas e
pedaços do avião por toda parte. Eu e vitória tivemos sorte de ter pulado do
avião antes dele cair e explodir com várias pessoas lá dentro. Com o impacto da
queda, Vitória quebrou sua perna e eu ainda não sei o que houve com as minhas.
- Senhorita, alguns cacos de
vidro estão por toda a sua perna e infelizmente os cortes foram profundos. A
viagem até Londres não será longa, e quando chegarmos no hospital, teremos de
fazer uma cirurgia em sua perna o mais depressa possível para poder retirar os
pedaços de vidro. Aconselho descansar. – Disse uma enfermeira. Assenti e tentei
dormir um pouco.
***
- Kylie? Kylie está me ouvindo? –
Minha visão estava um pouco embaçada. Eu apenas conseguia ver a silhueta de
três pessoas ao meu redor e ouvir suas vozes. Quem estava me chamando
provavelmente era minha avó, e seu tom de voz era preocupante. Ela parecia ter
chorado durante uma noite inteira e eu também conseguia ouvir meu vô chorando,
sua situação não era diferente.
- Vovó Marie? Vovô Robert? –
Perguntei. Minha visão começou a voltar ao normal e os vi assentindo com a
cabeça. Perto deles estava o médico no qual havia resgatado Vitória e eu. –
Onde está Vitória? – Perguntei desesperada. Eu prometi a ela que a protegeria.
- Acalme-se. Ela está bem.
Diferente de você, ela apenas quebrou a perna e terá de fazer fisioterapia caso
queira que o osso volte ao lugar mais rápido. Já você as notícias não são tão
boas?
- O que eu tenho? – Perguntei.
Ele negou a cabeça e meus avós começaram a chorar novamente.
- Infelizmente você perdeu o
movimento das pernas. – Senti lágrimas teimosas caírem de meus olhos e fazer-me
chorar descontroladamente. Isso não podia estar acontecendo, não comigo. – Na sua
cirurgia, conseguimos tirar alguns cacos de vidros que estavam em sua perna
direita. Mas alguns estavam tão fundos que infelizmente não conseguimos
retirá-los. Vão inflamar, e você terá de fazer a cirurgia novamente.
- Me diga doutor, eu irei voltar
a andar? – Ele fez uma expressão de tristeza.
- Infelizmente há setenta por cento
de chance de você não conseguir mais andar. – Eu não conseguia acreditar em
suas palavras, parecia que elas estavam me dando socos. E eu, indefesa, não
podia fazer nada. – Não se preocupe. Eu não disse que você não podia voltar a
andar. A senhorita pode fazer uma fisioterapia para tentar voltar a andar. Pode
demorar, mas se acreditar, irá voltar a andar em breve.
- Isso é muito bom. Mas eu tenho
mais chances de passar o resto da vida em uma cadeira de rodas do que andar
novamente.
- Não perca as esperanças, ela é
a última que morre. Vou deixar você e sua família a sós, tenho de fazer mais
alguns exames na menor. – E então, ele saiu. Eu estava acabada. Para mim,
descobrir que provavelmente eu não poderei mais andar era o fim do mundo. Minha
paixão era minhas pernas.
- Não desanime. – Disse minha vó.
– Você podia ter morrido.
- Mas eu não morri. E eu agradeço
por isso. – A respondi. – Mas eu acho que eu só sobrevivi por causa de Vitória.
Eu a vi chorando e gritando pela mãe, e ela não tinha resposta alguma. Quando
eu olhei pra ela, eu lembrei do dia em que me perdi naquele assalto quando
tinha a idade dela. E mesmo tendo colocado o movimento das minhas pernas em
risco, eu pulei daquela janela com ela no colo.
- Deve ter sido o impacto,
querida. O avião deveria ainda estar muito alto. – Vovó Marie passou suas mãos
pelos meus cabelos e beijou o topo de minha testa.
- Eu não quero ficar presa em uma
cadeira de rodas, vovó.
- Sei que eu não deveria, mas eu
quero te levar para mostrar-lhe uma coisa. Prometo que será bem rápido e que
não irei força-la a ficar na cadeira por muito tempo. – Disso vovô.
- Contando que eu não fique
deitada nessa cama, eu aceito. – Ele sorriu.
Vovô pegou uma cadeira de rodas e
com cuidado, me ajudou a sentar na cadeira. Embora eu não queria aquilo para
meu futuro, era isso o que eu teria de enfrentar, querendo ou não. Ele foi
empurrando a mesma por todos os lugares do hospital, mostrando-me que várias
pessoas estão passando por coisa pior do que eu, e mesmo assim, elas tem de
seguir em frente e encarar a realidade. Ele parou em um tipo de jardim que
tinha no hospital. As pessoas que faziam tratamento conversavam em si, e as
crianças com algum tipo de doença brincavam como se não tivessem nada de
diferente.
- Está vendo? Embora tenham
doenças ou estão como você, eles são felizes e encaram isso na maior
naturalidade. Se eles não tivessem fé, eles não estariam aqui para contar
histórias. E eu não quero ver você sofrendo e desacreditando que um dia vai
andar novamente.
- Eles são tão felizes. Mais
felizes do que pessoas que não tem absolutamente nenhum tipo de deficiência ou
doença.
- E eu e seu avô queremos ver
você assim. Feliz e acreditando que vai voltar a andar. Não é o fim do mundo
Kylie. – Vi Vitória conversar com algumas crianças e apontar para mim. Eu sorri
ao vê-la feliz.
- Eu e seu avô precisamos
conversar com o neto de um amigo dele, voltamos daqui alguns minutos. – Assenti
e fiquei olhando para Vitória enquanto eles iam até esse neto do tal amigo do
vovô. Fiquei minutos vendo essas
pessoas felizes com o que tem e eu reclamando de que não seria mais a mesma.
Talvez eu devesse seguir o exemplo delas. Vi um garoto se aproximar lentamente
de mim. Ele tinha cabelos cacheados, e pelo que deu pra mim perceber, seus
cabelos estavam crescendo.
- Você é Kylie? A garota que
salvou uma menina de sete anos dum acidente de avião? – Assenti. – Prazer, eu
me chamo Harry. – Nada respondi, como sempre. –
Pelo visto não é muito de falar com as pessoas. Não precisa ter medo, eu não
vou zoar você sobre estar numa cadeira de rodas como algumas pessoas faze.
- Assim eu espero. – Finalmente o
respondi. – A quanto tempo está aqui?
- Faz alguns anos. Eu sei, é
muito tempo. Mas eu estou lutando contra um câncer que descobri ter quando
tinha treze anos. Se eu tivesse desistido, estaria morto. Mas aqui estou eu,
vivo e falando com você.
- É deu pra perceber. – Sei que
fui meio rude. Mas eu não gosto muito de falar com estranhos.
- Achei incrível a sua atitude
pra salvar aquela menina. Ela está contando essa história para as crianças
daqui, e ela disse que te considera uma anja da guarda.
- É, eu sei. – Suspirei. – Ela acredita
que a mãe dela vai voltar. E eu simplesmente não sei o que dizer quando ela me
fala isso.
- Ela um dia vai entender que ela
nunca vai voltar. – Ele respondeu. – Sei que eu não tenho a sua confiança e
muito menos te conheço. Mas queria que você conhecesse a minha princesinha.
Creio que você irá gostar dela.
- Eu não sei não. Estou esperando
meus avós e se eu sair assim do nada eles vão ficar preocupados.
- Te trarei de volta. É rápido.
Eu só quero que ela conheça mais alguém além de mim. Sabe, não é todo mundo que
eu levo para conhece-la.
- Você me convenceu eu vou. – Ele
sorriu e pediu permissão para empurrar a cadeira. Assenti. – Harry. – Ele olhou
pra mim. – Como vocês conseguem ser felizes sabendo que podem nunca mais serem
os mesmos.
- Nós apenas acreditamos que
vamos voltar a ser o que éramos. Já vi muitas pessoas voltarem pra casa curado
como também já vi muitas pessoas morrerem. Eu acredito que vou vencer o câncer,
e você? Acredita que vai vencer a paralização das suas pernas?
Uuuuuuuuuuhuuuuuuuuuu
ResponderExcluirAMEI QUERIDA!!!!!
FICOU DEMAIS.
XD
XOXOXO
É incrível, sempre que eu leio "câncer" eu me lembro de ACÉDE, impressionante.
ResponderExcluirAdorei, Sté-chan!
Adorei o apelido!
ExcluirE a minha fanfic não é nada comprada a sua
Minhas fics são horríveis, Sté-chan!
ExcluirCara que top, ela é uma heroína, espero que ela acredite nela mesma e que possa desenvolver o movimento das suas pernas novamente,continua please,adorei
ResponderExcluirxoxo Duda