Aquela Coisa - Capítulo três

- Encontro com o inimigo

      

    Era a primeira vez que eu sentia essa sensação de poder tocar nas nuvens e o vento absurdamente frio tocar em minha pele. Jack, apenas observava a minha alegria de estar sentindo qual é a sensação de voar pela primeira vez.

      - Está gostando? -Perguntou Jack.

      - Se eu estou gostando? Jack, eu estou amando! Nunca imaginei que poderia ver minha cidade das alturas sem ser de avião. -Ele sorriu.

      - Pois então, segure-se! O voo terá uma pequena turbulência!

      E assim fomos mais rápido até o polo note. Fechei meus olhos e esperei até certificar-me de que tudo ficaria bem. Minhas mãos apertavam a nuca de Jack e acho que ele percebeu que eu estava com medo, medo de cair. 

      - Blair? Blair você está bem? -Ouvi a voz de Jack e lentamente abri meus olhos, e ao abrir, vi os lindos olhes azuis de Jack me encarando. 

      - Ah, desculpe! Já comentei que tenho medo de cair?

      - Medo de cair ou medo de altura? -Ele riu e como sempre bati em sua cabeça. - Acho que devo parar de zoar você. Ultimamente você tá ficando forte.

      - Então essa é a famosa Blair? Realmente, é bem fofinha! -Me virei e assim que olhei um pouco pra cima, vi a fada do dente. - Posso ver seus dentes?

      - Claro! -Eu mal consegui falar direito. A Fada abriu minha boca e examinou meus dentes.

      - Nossa, eles estão ficando em perfeita ordem por causa de seu aparelho. Cuide deles direito, ouviu?! -Ri e quando Jack se aproximou de mim, um buraco se abriu e aparecendo um enorme coelho.

      - Como vai canguru da páscoa? -Jack falou e eu tive que segurar o riso.

      - É coelhinho da páscoa, seu moleque exibido! -Coelhão se virou e me viu, me sentia um anã perto dele.       - Oi garotinha, qual é o seu nome?

      - Blair. E achei fofo o "garotinha". Isso tudo é porque eu estou fazendo treze anos hoje?

      - Treze anos? Meus parabéns!

      - Obrigado.

      - Então, como o velho Noel está? -Jack perguntou depois de ter sido excluído por mim e Coelhão.

      - Ele chamou todos nós novamente, parece que ele e Sandman viram uma coisa bem esquisita com o globo. -Respondeu Coelhão olhando diretamente para o globo.

      - Que tipo de coisa esquisita? -Perguntou Fada.

      - Bem, nós não sabemos...

      Todos eles estavam falando de algo no qual eu não conseguia entender, pensei que só iríamos ajudar o Norte e logo em seguida ir pra casa. Mas não é bem assim. Enquanto Jack, Coelhão e Fada conversavam sobre o motivo de terem chamado eles aqui. Ao longe, vi a silhueta de Sandman e Norte discutindo, talvez sobre o motivo de ter reunido todos os guardiões. E no meio da conversa dos dois, pude ver Sand fazer a imagem de o rosto de um homem. Suas feições não me eram estranhas, apesar de eu não poder ver seu rosto. E enquanto tentava descobrir quem era, Norte e Sand saíram do local onde estavam e vieram até aqui.

      - Porque me interrompeu pela segunda vez na mesma hora em que estava pintando meus ovos para a páscoa?

      - Como da última vez, é importante. -Suspirou. - Breu está de volta, e parece que não está sozinho, com ele estão três mulheres. 

      - Como assim três mulheres? -Perguntou Jack.

      - Eu não sei. Apenas sei que assim como da última vez ele apareceu aqui como uma sombra, cobrindo todo o globo. As crianças estão em perigo de novo, e pelo jeito, Breu está mais forte.

      No momento, todos haviam esquecido de mim, não estava irritada mas, ouvir que Breu está de volta me deixa com medo. Jack me falou tanto dele e eu esperava de que tudo que ele me contou não voltasse a acontecer. Mas infelizmente, está acontecendo. Todas as histórias que Jack havia me contado me deixavam com medo, Breu tentou destruir Sand, como ele voltou? Isso é um mistério. Sandman, ao me notar, deve ter percebido o meu desespero e veio até mim, fazendo imagens de areia no qual eu não conseguia entender nada.

      - Ele disse: Não se preocupe, vai ficar tudo bem que nem da última vez. -Jack traduziu para mim.

      - Mas afinal, quem é está menina? -Norte perguntou.

      - Essa é a Blair, a garota no qual Jack passou anos protegendo de se meter em confusão.

      - Blair? Soube que você está fazendo aniversário hoje. Parabéns. -Norte me deu um abraço. - Aceita um panetone?

      - Não, obrigada. Não sou muito fã de panetones, desculpe.

      - Se Breu está voltando, deve haver algo que ele queira. Sendo assim, temos que proteger todas as crianças do mundo, principalmente Jamie, Sophia e... a Blair.

      - A Blair? Mas a Blair não tem nada haver com isso. -Jack se aproximou de mim me abraçando de lado, como se estivesse me protegendo. Mesmo com esse clima, tive que ver meu tamanho. Jack era baixinho, mas eu conseguia ser mais baixa que ele. Eu passava um pouco de seus ombros.

      - Mas um motivo para você ter o dobro de cuidado que você tinha com ela. Breu certamente vai querer nos tirar algo que nós gostamos muito, e sei que Blair é especial para você, afinal, ela é sua melhor amiga. -Colhão avisou. Jack olhou para o chão e logo em seguida para mim.

      - Mas... Eu não fiz nada para o bicho papão. Por que ele iria querer fazer algo comigo sendo que nem me conhece.

      - É uma pena você não conhecer Breu como nós, se você soubesse o que ele é capaz de fazer seria mais fácil para você entender. -Fada segurou em meus ombros e pude perceber que ela também estava com medo.

      - Eu... Eu não preciso de ninguém pra me proteger. Mesmo sendo uma mortal miserável eu tentarei me proteger com as minhas próprias mãos. -Sand fez uma carinha de triste e logo depois me abraçou.

      - Você não tem escolha, ou eu te salvo ou você terá que dizer adeus a todos os amigos que você tem. Tanto aqui como no local onde mora.

      - Mas eu... -Suspirei. - Eu só queria não ter que me envolver nisso. Pelo que você me contou, é assustador e... Horrível! Sabe, eu não consigo imaginar tudo o que o Sand passou da última vez que vocês lutaram contra ele, foi pura crueldade.

      - Mas infelizmente, todo esse pesadelo vai voltar. E quem sabe... Pior!

Mais tarde...

      Todo aquele papo me deixou com medo de que algo poça acontecer com eles, principalmente com Jack. Acabara de terminar de me arrumar para o jogo que será daqui há meia hora. Vestia uma regata preta e calça jeans azul. E em meus pés, eu calçava uma bota, não sei por que mas eu sempre fui apaixonada por botas. Amarrei meu cabelo num rabo de cavalo frouxo e ouvi Jack batendo na janela do quarto dos meus pais. E para meu azar, meu pai o viu.

      - Quem é esse aí, Blair?

      - Ah é... Um amigo. Sabe o que eu sempre falo pra vocês que sempre se mete em confusão.

      - Aquele no qual você tem uma queda. -Coloquei a mão na minha testa e Jack riu ao ver minha expressão.

      - Não, esse é o Wally Patrick. Pai, esse é o Jack, Jack, esse é o meu pai. -Os dois se cumprimentaram com um aperto de mãos e Jack ainda ria da cena anterior.

      - Gostei do cabelo, por mim Blair faria do mesmo jeito. -Comentou meu pai.

      - Prefiro de cabelo preto mas até que branco não ficaria mal nela. -Sorriu. - Já está pronta?

      - A onde vão?

      - Ver o primeiro jogo no ginásio da escola, depois de três anos aquele treco ficou pronto.

      - Até que enfim, assim você para de ficar se escondendo naqueles buracos que tinham lá. -Meu pai foi até a comoda e me entregou uma cédula de dez reais. - Tome, para vocês comerem!

      - Então, agora podemos ir? -Perguntou Jack.

      Saí de minha casa e então Jack saiu da janela e veio até onde estava. No meio do caminho ficamos em silêncio, mas logo foi interrompido por uma pergunta de Jack quando já tínhamos atravessado a rua.

      - Me promete uma coisa? Promete que se alguma coisa acontecer, nunca vai me esquecer ou parar de acreditar em mim? 

      - Como vou te esquecer ou parar de acreditar? Você é meu melhor amigo, e melhores amigos não se abandona.

      - Mas um dia você vai me abandonar, e eu ficarei sem a minha pequena no qual convivi sua vida inteira.

      - Não pensei besteira, Jack. Não importa o que acontecer, eu sempre vou estar com você pro que der ou vier. -O abracei e o mesmo retribuiu.

      Jack e eu nunca demos um abraço, sempre temos vergonha um do outro em alguns assuntos, e isso eu não consigo entender. Me sentia bem em poder sentir sua pele gelada novamente, embora algumas vezes me fizesse tremer de frio. O resto do caminho fomos conversando, mas sem tocar no assunto de agora a pouco. Estava meio lotado a escola, e eu não gostava de super loação, embora Jack adorasse. O levei em direção ao ginásio mas ele me arrastou até o refeitório para beber água.

      - Jack, o jogo já vai começar e você ainda tá aí bebendo água.

      - Calma, o jogo vai começar mas ainda veremos um pouco, eu sei que você não gosta de futebol apenas quer ver o Patrick.

      - Não é... Como sabe que o Wally joga no time?

      - Quando você não podia me ver, eu via você suspirando enquanto assistia ao treino. Agora entendo porque você se escondia naqueles buracos.

      - Você é irritante!

      - Eu sei. Vamos chatinha?

      E novamente tive que o acompanhar até a quadra. Mas infelizmente no meio do caminho, esbarrei em Amélia, a chatinha da minha sala. Ela segurava um suco de uva e ao esbarrar em mim, derramou o suco em sua blusa.

      - Sua tola! Não olha por onde anda?

      - Desculpe, mas você deveria tomar mais cuidado também. -Tentei ser simpática, o que não deu certo.

      - Você vai me pagar Blair! -E saiu junto com Raissa, sua fiel amiga.

      - Azar o dela, eu não tenho dinheiro. -Jack riu.

      - Quem é essa garota? -Olhou para trás. - Ela é bem bonita.

      - Você tá zoando com a minha cara, não é? Ela é a garota mais exibida e ridícula. Ok, isso parece filme americano, mas infelizmente essa é a minha realidade. E já como estou sendo obrigada a ser protegida por você, você está proibido a chegar pelo menos um metro perto dela.

      - Essa piada foi bem boa, você pode ser comediante quando crescer. E se eu me aproximar, o que vai acontecer?

      - Não irei mais ter que ficar ouvindo você falar: 'Breu está de volta, então agora você é obrigada a passar o dia inteiro trancafiada dentro de casa olhando para o teto pensando naquele integrante daquela banda que você diz que parece comigo.' ou: 'Você é só uma garotinha indefesa, eu tenho que proteger você'

      - Eu não falo desse jeito.

      - Mas é como eu imagino. Jack é sério se você se aproximar dela você irá sofrer. Vai mesmo querer perder a sua melhor amiga?

      - Falou certo, melhor amiga não minha dona. Será que eu não posso mais me interessar por uma garota que você já vai fazendo drama e ameaçando não ser mais minha amiga? Ah, vai catar coquinho! Apenas para não dizer outra coisa.

      - Ah, então você quer que eu vá catar coquinho? Por que não me ajuda? Afinal, você já deve estar acostumado.

      - Olha como fala comigo garota, ou se não... -O interrompi.

      - Ou se não oque? Vai me congelar e logo depois quebrar o gelo comigo dentro fazendo eu ficar em pedaços e você ficar livre de mim? -Jack ficou calado por um tempo, e já pude perceber que estava bravo pois o tempo começou a ficar frio.

      - Ah meu Deus! Tudo isso por causa de ciúmes. O amor hoje em dia é uma coisa engraçada, ninguém sabe quais são os verdadeiros sentimentos. E eu adoro ver as pessoas confusas...

      Me assustei ao perceber que não era Jack que estava falando. E de repente, uma sombra apareceu diante de nossos pés e se transformando em um homem. Jack ficou em minha frente e assim me afastou um pouco para trás, seu cajado veio junto com o vento, como se o obedecesse.

      - Breu!