Capítulo único: Safe and Sound

Capítulo único - Sã e Salva

 

  Os jogos já estavam no final, e eu corria por minha vida pela floresta escura.

   Desde o início dos jogos, tudo em que consigo pensar é em como centenas de crianças tiveram que passar por essa experiência antes de morrer, antes de serem assassinadas. Tudo o que eu consigo pensar é em como as pessoas da capital, o lugar em que nasci, conseguiram transformar esse grande banho de sangue em um programa de TV. Algo que eles usam para a diversão.  

  Eu só consigo pensar na crueldade dessas pessoas. E agora, me pondo no lugar das pessoas dos distritos eu entendo o porque do desejo de vingança. De justiça. Eles acham que as nossas mortes aliviarão a dor e o tormento que eles sentem, que esse jogos farão o luto sumir. Mas a verdade nua e crua é: nos somos o preço que a capital terá que pagar por todos os anos que ela oprimiu o povo. Nossas perdas os trazem apenas conforto: eles pensam que estão fazendo o certo por todos que morreram.

   Eu me sinto horrível apenas de pensar em como minha família contribuiu para que esse mesmo evento acontecesse anos após ano.  

   Sim, eu entendo os motivos, mas isso não faz com que eu os odeie menos. Não têm como não odiar as pessoas que te colocaram nesse lugar, nesse inferno. Ainda mais quando se chegou até essa altura do campeonato, onde sobram apenas quatro pessoas, onde só apenas mais três têm que morrer. Quando chega no ponto em que você tem que matar alguém que você se importa, alguém que você ama. Seu melhor amigo de infância, aquele que te ajudou a superar a morte de seu pai, aquele que acobertava suas brincadeiras, aquele que desde que entrou na arena com você fez de tudo para te proteger. Aquele que você sabe que se mataria apenas para te ver viver.

   Ouço um barulho e olho para trás, procurando a origem do som que me despertou dos meus pensamentos. Não vejo nada se movendo na escura noite mas quando olho para frente, vejo um vulto que colide em mim. Sem pensar, puxo minha faca e estou prestes a atacar quando reconheço seu rosto.

   - Toby. - falo, involuntariamente.

  No mesmo instante ouço um tiro de canhão, e sei que agora só restam três.

   O pesadelo estava no fim... logo todo o sofrimento iria acabar. Os jogos acabariam, de uma vez por todas.

  - Oi Lily. - diz ele sorrindo.

   Sem pensar duas vezes o abraço, e ele me abraça de volta. O aperto firmemente, pois sei que esse provavelmente seria nosso último abraço. Tento decorar seus cheiro, e quando solto encaro seus olhos de um azul muito escuro. Não posso me esquecer deles, de forma alguma. Ele passa a mão no meu rosto, limpando as lágrimas que eu nem percebi que escorriam.

   - Você vai ficar bem, Lílian.

   - Não é comigo que eu estou preocupada!

   - Eu queria voltar, mas eu prometi para sua irmã que ela a teria de volta, e essa é uma promessa que eu pretendo cumprir. - ele diz

    Estou prestes falar quando ouço um barulho atrás de nós, mas quando me viro já é muito tarde. Toby tem uma flecha crava no ombro.

   Arregalo os olhos, e sem nem mesmo pensar, jogo a faca em Lisa. A faca fica crava em seu peito e antes que ela consiga entender o que aconteceu a vida deixa seus olhos. Eu ignoro o som do canhão e seguro Toby. Ele olha para mim e sorri, enquanto as lágrimas escorriam cada vez mais pelo meu rosto.


I remember tears streaming down your face
When I said, "I'll never let you go"
When all those shadows almost killed your light
I remember you said, "Don't leave me here alone"
But all that's dead and gone and passed tonight

   - Não chore, Lily. Era assim que tinha que ser. Eu nasci para fazer isso. Eu nasci para morrer por você.

   Eu nego com a cabeça.

   - Você não está morrendo. Está tudo bem. Você vai ficar bem...

   - Nós dois sabemos que isso não é verdade. Apenas... não me deixe só. -ele diz com muito esforço.

   Eu soluço.

   - Eu nunca poderia te deixar.

   Me sento e coloco a cabeça dele no meu colo. Queria poder curá-lo, mas sei que é impossível e mesmo que eu o fizesse, ele nunca me deixaria morre para que ele vivesse. Tudo o que consigo pensar é em quanto sentirei a falta dele. Os olhos deles não desviam dos meus nem por um segundo, minhas lágrimas caem e molham seu rosto. Sei que os primeiros raios da manhã aparecem no céu. 


Just close your eyes
The sun is going down
You'll be alright
No one can hurt you now
Come morning light
You and I'll be safe and sound

   - Não me deixe. Por favor, Toby, fique comigo!!

  - Eu ficaria se pudesse. - ele diz - mas me sinto tão cansado...

   Respiro fundo, e sei que está na hora. Eu tinha que permitir que ele se fosse, para sempre. Eu tinha que libertá-lo.

  - A- a- apenas.. feche seus olhos. - falo - Já é manhã. Você está a salvo.

Don't you dare look out your window
Darling, everything's on fire
The war outside our door keeps raging on
Hold onto this lullaby even when the musics gone, gone
Just close your eyes
The sun is going down
You'll be alright
No one can hurt you now
Come morning light
You and I'll be safe and sound


    Ele sorri minimamente e fecha os olhos. Sua respiração já é quase nula.

   - Eu te amo.

   Sei no instante em que as ouço que essas serão suas últimas palavras.

   -Eu também.

   Seu peito está imóvel, e ao longe ouço o som do canhão. Sei que agora acabou. Ouço os tordos cantando a melodia que Katniss Everdeen os ensinou.

   -Você está são e salvo. - sussurro. Beijo sua bochecha gelada e o olho pela última vez. - Adeus Tobias.

Just close your eyes
You'll be alright
Come morning light
You and I'll be safe and sound

   Posso ouvir o som do aerodeslizador ao longe e escuto nos alto falantes:

- Senhoras e senhores, a vencedora da septuagésima sexta  e última edição dos Jogos Vorazes: Lílian Everheart!

   Eu não sinto alívio ou alegria. Tudo o que sinto é tristeza , culpa e ódio.

  Eu odeio cada um deles por nos botarem aqui. Eu os odeio por me fazerem matar.

  Subo pela escada do aerodeslizador entro no avião. Sei que eles estão aqui em algum lugar e mesmo sem vê-los grito:

   - Eu odeio vocês! Vocês me fizeram matar!! Vocês o tiraram de mim! Vocês os assassinaram! Tudo que eu quero é que vocês morram!! EU.ODEIO. VOCÊS!

  Uma enfermeira entra junto com dois seguranças que me seguram. Eu continuo gritando e me debatendo enquanto ela aplica uma injeção em mim. Sinto meus olhos pesarem e a última coisa que vejo é o rosto de uma garota que me olha nos olhos e diz:

   - Eu sinto muito.

  Eu quero gritar, dizer que não me interessa o que ela sente: aquilo fora imperdoável. Nós somos apenas crianças, não devíamos passar por isso, que não deveríamos ser obrigados a matar outras crianças para a nossa própia sobrevivência. Queria gritar que ela é tão ruim quanto o Snow, mas fui sugada para a escuridão. E, aquele momento, tudo o que eu desejei foi que eu nunca tivesse que acordar.

 E aí pudins? O que acharam da one?Meio dramática, provavelmente. Eu escrevi agora, perto da estréia de A Esperança... algum tributo no blog?? De qualquer forma, faz muito tempo que eu queria escrever sobre jogos vorazes. Comentem e me digam sua opinião!

XOXO
-B