5 Meses Depois...
Ali estava ele. Sentado
nas escadas da porta da escola, cabisbaixo. Dylan sempre fora um garoto
extrovertido e brincalhão, apesar de sua timidez. A morte de Cora fora uma
notícia bombástica para muitos, especialmente seus familiares e amigos da
garota. Nunca fui próxima a ela, mas também nunca tive nada contra ela.
Falávamos algumas vezes, era uma boa garota. Não tinha inimigos, não fazia nada
no qual considerasse errado e nunca esnobou alguém, apesar de ser a garota mais
popular da escola. Era inteligente, bondosa e adorava fazer amizades com
novatos, sejam eles mais velhos ou mais novos. Quem faria uma barbaridade com
uma garota que nunca fizera o mal a ninguém?
Os alunos da escola não
eram mais os mesmos. Os bailes já não tinham mais aquele ar colorido e festivo
que Cora sempre fazia questão de tê-lo nas festas que programava. A coroa de
rainha fora entregue para Angélica Finnick, uma quase rival de Cora. Apesar de
não ir com a cara de Cora, eu sabia que ela nunca a faria mal, pois não teria
coragem de cometer um crime como esses. Angélica foi criada numa família rica,
diferente de Cora que nasceu numa família de classe média, mas não se importava
com isso. E eu tenho certeza de que Dylan a amava, mesmo não estando no mesmo
nível social que o garoto.
Dylan.
Não posso negar, ele sempre fora um dos garotos mais bonitos da escola. Assim
como Cora, era popular. Mas diferente de alguns, não era metido como o seu
amigo Frederick, mais conhecido como Fred. Diferente de Dylan e Cora, Fred e
Angélica (Angel), eram odiados por quase toda a escola. Não respeitavam os
outros e se achavam os reis da escola, mesmo sabendo que esse título pertencia
à Cora e Dylan. Com Cora fora do caminho e Dylan afastado de tudo e de todos,
essa era a oportunidade de ouro para os dois tomarem “posse” da escola.
Eu precisava falar com
Dylan. Fazia cinco meses que guardava tudo aquilo para mim e eu já não
aguentava mais isso. Ajeitei a mochila em minhas costas e aproximei-me do
garoto.
— Dylan? — Ele não me
respondeu — Posso me sentar aqui?
Ainda cabisbaixo, ele
assentiu levemente com a cabeça. Sentei, mas no mesmo instante o garoto afastou-se
mais para o lado. Era sempre assim quando uma pessoa chegava perto dele.
— Não sei se lembra de
mim. Sou Agatha, era parceira de trabalhos com Cora.
Novamente o garoto
assentiu, o que eu achei que dissesse que ainda lembrava de mim depois desses cinco
meses no qual ele afastou de tudo. Não sabia por onde começar, apenas que teria
que contar antes que eu acabe ficando louca. Eu estava naquela festa, Cora
convidou-me para conhecer alguém legal depois dela ter descoberto que Frederick
se demonstrou mais uma vez ser um belo de um idiota. Coloquei a mochila em
minhas pernas e fiquei encarando minhas mãos.
— Sabe, eu preciso falar
com você. Preciso falar com você há bastante tempo.
— Seja rápida!
As palavras de Dylan se
tornaram curtas e algumas vezes soavam grossas. Certamente ele ficaria zangado
comigo por ter escondido isso durante meses, escondendo isso da polícia que
ainda investigava o assassinato e também escondendo de todos aqueles que se
importavam com Cora.
— Eu...
Comecei. Não conseguia
encontrar as palavras certas para dizer isso a Dylan, e perdi uma das minhas
poucas chances de falar com ele. O sinal havia tocado, o fazendo levantar-se
apressadamente e ir em direção a sala de aula, no qual, infelizmente, não era a
mesma que a minha.
— Então... A gente
conversa depois!
Gritar não adiantaria
nada, e eu sabia disso. Entrei na escola e fui diretamente para a minha
primeira aula do dia. Inglês nunca fora a minha matéria preferida, nunca achei
necessário aprender sobre uma língua no qual eu já sei o suficiente. Acreditava
que tudo o que aprendo nesta matéria poderia ser usado somente para pessoas que
querem seguir alguma carreira como escritor ou jornalismo.
Vi Dylan entrar em sua
sala, no qual era matemática. Pelo pouco que o conhecia, sabia que ele não era
bom na matéria, mas esforçava-se para não ficar reprovado. Um ano atrás, estava
eu, Cora e Dylan num grupo de estudo na biblioteca, onde mencionei a palavra à
Dylan pela primeira vez desde que o conhecera somente de vista. De cara, me
simpatizei com o mesmo e desejei toda a felicidade para ele e Cora que era tão
legal quanto Dylan. Ainda não sei quem teria coragem de fazer uma barbaridade
como essa.
Antes
“Sabe o que poderia
melhorar o desempenho dos alunos em matemática?” Cora me perguntou. “Sabe a
prova que teremos semana que vem?”
“A que irá classificar o
desempenho das escolas?” Dylan perguntou, e Cora assentiu. “Ah! O que tem essas
provas? Só sabemos que vai ser meio que um terror.”
“Eu estava pensando...”
“Qual é a ideia agora?”
Cora olhou para Dylan e deu um tapa em sua cabeça. “Ai”
“Poderíamos dar um prêmio
para o aluno que tirar a melhor nota!?”
“Certo! Agatha, o que você
quer ganhar?”
“Eu?”
“Deixe de ser besta,
Dylan!” Ela rolou os olhos. “Podemos dar... deixa eu ver... uma caixa de
bombons ou até mesmo uma blusa do Green Day ou do Justin Bieber.”
“Quem vai querer a blusa
do Bieber?” Dylan falou com sarcasmo.
“As meninas, seu cabeção!”
“Ou então uma oportunidade
de demonstrar o seu talento no baile de primavera” Comentei. “As pessoas terão
mais interesse em serem mais reconhecidos pela escola, talvez isso faça-os
estudar mais um pouco para tirar boas notas.”
“Agatha, você é uma
gênia!”
Agora
Não sabia quanto tempo
passei pensando, mas acho que provavelmente a aula inteira. Quando dei por mim,
as pessoas já saiam para ir as suas outras aulas. Dessa vez, felizmente eu
teria aula de ciências com Dylan, e desde o começo do ano letivo eu me sento
com ele. Antes era normal, conversávamos um pouco e fazíamos as tarefas juntos,
mas agora era diferente, Dylan não falava mais nada e não me pedia ajuda com os
deveres.
Sentei em meu lugar e o
esperei. Talvez agora eu conseguisse falar com ele, talvez agora eu possa
consolá-lo e tentar fazê-lo voltar a ser aquela pessoa alegre e divertida que
ele era antes de Cora morrer. Meus cabelos ruivos estavam indo para frente dos
meus olhos por conta do vento que soprou quando o professor abriu a janela para
assoar-se. Ele era assim, meio nojento e alguns momentos arrogantes. Prendi os
cabelos num rabo de cavalo e preocupei-me em saber que estavam todos os alunos
na sala, menos Dylan.
Eu queria ser sua amiga,
queria ajuda-lo a seguir em frente. Mas parece que no momento isto está sendo a
coisa mais difícil do mundo. O professor escreveu alguma coisa na lousa. Algo
como: O que sabemos é uma gota; o que ignoramos é um oceano. Pelo
o que eu me lembre, essa é uma frase de Isaac Newton. Escrevi aquela frase em
meu caderninho, adorava escrever coisas que provavelmente teriam sentidos para
mim no futuro.
— Professor?
Senti minha pele esfriar
ao reconhecer a voz de quem acabara de entrar na sala. Estava nervosa, com medo
e com receio se deveria contar ou não. Mas é claro que eu deveria contar! Dylan
merecia saber que pelo menos alguém naquela festa pode ter visto o suposto
assassino de sua namorada.
O professor o olhou com
desdém enquanto Dylan sorria envergonhado.
— Atrasado!
— Me desculpe! — Dylan
fechou a porta atrás de si e olhou para o professor — Eu estava na diretoria,
minha mãe havia me ligado para saber se eu realmente estava bem. Posso
sentar-me?
— Só desta vez!
— Obrigado.
Devagar, Dylan veio e
parou ao meu lado. Afastei-me um pouco, dando espaço para ele sentar, o que fez
imediatamente. Ele tentava parecer que estava bem, mas seus olhos diziam o
suficiente de que ele ainda estava sofrendo com a morte da garota que ele
amava. Comecei a roer as unhas, uma coisa que era raro eu fazer. O professor
anotou mais algumas coisas na lousa, e por mais incrível que parecesse, Dylan
estava copiando e prestando atenção na aula. Era a primeira vez que isso
acontecia desde a morte de Cora.
Ele deve ter percebido que
eu estava nervosa, pois olhou para mim com uma expressão preocupada.
— Agatha, você está bem?
— O quê? Sim, eu estou! Só
não estou entendendo a matéria. — Menti.
— Quer ajuda? — Assenti.
Dylan pareceu desconfiar um pouco, mas ignorou e começou a explicar-me sobre o
sistema respiratório.
Olhei novamente para a
frase escrita na lousa. Sr. Morello sempre escrevia frases de famosos
cientistas antes de começar as suas aulas. Dizia que isso fazia os alunos
refletirem, e aconselhava escrevê-las no caderno caso um dia precisássemos de
algo para refletirmos. Não sei porque, mas parecia que essa frase realmente
iria ser muito lembrada para mim daqui um tempo, eu sentia isso.
No canto da parede, perto
do quadro negro, estava um memorial à Cora. Um retrato seu no qual continha a
última foto que ela tirou. Usava uma blusa lilás com alguns detalhes floridos
em cima, seu cabelo estava solto e havia feito bayliss. Uma tiara preta era
usado como seu único acessório e o sorriso alegre dava a impressão de que ela
ainda estava aqui, viva e comemorando com suas amigas por ter sido mais uma vez
a rainha do baile.
— Agatha? — Novamente ouvi
a voz de Dylan me tirando dos pensamentos. Era impressionante como ele estava
se preocupando comigo quando ele estava sofrendo com o seu coração despedaçado
em milhões de pedaços no qual certamente eram impossíveis de serem coletados e
colados novamente.
— Hum...?
— Está prestando atenção?
Isto vai cair na prova!
— Dylan, desculpe! Eu
estava pensando em um turbilhão de coisas e nem dei muita atenção para a sua
explicação. Espero que não se importe em explicar novamente, prometo não ficar
no mundo da lua outra vez.
— Certo, não tem problema!
— Então, do que você
estava falando mesmo?
— Agatha, eu estava
pensando... Posso ir na sua casa esta tarde para estudarmos?
Show! Continua filha, te amo.
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