12.12.2014

Máscaras - Capítulo 1

5 Meses Depois...
Ali estava ele. Sentado nas escadas da porta da escola, cabisbaixo. Dylan sempre fora um garoto extrovertido e brincalhão, apesar de sua timidez. A morte de Cora fora uma notícia bombástica para muitos, especialmente seus familiares e amigos da garota. Nunca fui próxima a ela, mas também nunca tive nada contra ela. Falávamos algumas vezes, era uma boa garota. Não tinha inimigos, não fazia nada no qual considerasse errado e nunca esnobou alguém, apesar de ser a garota mais popular da escola. Era inteligente, bondosa e adorava fazer amizades com novatos, sejam eles mais velhos ou mais novos. Quem faria uma barbaridade com uma garota que nunca fizera o mal a ninguém?
Os alunos da escola não eram mais os mesmos. Os bailes já não tinham mais aquele ar colorido e festivo que Cora sempre fazia questão de tê-lo nas festas que programava. A coroa de rainha fora entregue para Angélica Finnick, uma quase rival de Cora. Apesar de não ir com a cara de Cora, eu sabia que ela nunca a faria mal, pois não teria coragem de cometer um crime como esses. Angélica foi criada numa família rica, diferente de Cora que nasceu numa família de classe média, mas não se importava com isso. E eu tenho certeza de que Dylan a amava, mesmo não estando no mesmo nível social que o garoto.
Dylan. Não posso negar, ele sempre fora um dos garotos mais bonitos da escola. Assim como Cora, era popular. Mas diferente de alguns, não era metido como o seu amigo Frederick, mais conhecido como Fred. Diferente de Dylan e Cora, Fred e Angélica (Angel), eram odiados por quase toda a escola. Não respeitavam os outros e se achavam os reis da escola, mesmo sabendo que esse título pertencia à Cora e Dylan. Com Cora fora do caminho e Dylan afastado de tudo e de todos, essa era a oportunidade de ouro para os dois tomarem “posse” da escola.
Eu precisava falar com Dylan. Fazia cinco meses que guardava tudo aquilo para mim e eu já não aguentava mais isso. Ajeitei a mochila em minhas costas e aproximei-me do garoto.
— Dylan? — Ele não me respondeu — Posso me sentar aqui?
Ainda cabisbaixo, ele assentiu levemente com a cabeça. Sentei, mas no mesmo instante o garoto afastou-se mais para o lado. Era sempre assim quando uma pessoa chegava perto dele.
— Não sei se lembra de mim. Sou Agatha, era parceira de trabalhos com Cora.
Novamente o garoto assentiu, o que eu achei que dissesse que ainda lembrava de mim depois desses cinco meses no qual ele afastou de tudo. Não sabia por onde começar, apenas que teria que contar antes que eu acabe ficando louca. Eu estava naquela festa, Cora convidou-me para conhecer alguém legal depois dela ter descoberto que Frederick se demonstrou mais uma vez ser um belo de um idiota. Coloquei a mochila em minhas pernas e fiquei encarando minhas mãos.
— Sabe, eu preciso falar com você. Preciso falar com você há bastante tempo.
— Seja rápida!
As palavras de Dylan se tornaram curtas e algumas vezes soavam grossas. Certamente ele ficaria zangado comigo por ter escondido isso durante meses, escondendo isso da polícia que ainda investigava o assassinato e também escondendo de todos aqueles que se importavam com Cora.
— Eu...
Comecei. Não conseguia encontrar as palavras certas para dizer isso a Dylan, e perdi uma das minhas poucas chances de falar com ele. O sinal havia tocado, o fazendo levantar-se apressadamente e ir em direção a sala de aula, no qual, infelizmente, não era a mesma que a minha.
— Então... A gente conversa depois!
Gritar não adiantaria nada, e eu sabia disso. Entrei na escola e fui diretamente para a minha primeira aula do dia. Inglês nunca fora a minha matéria preferida, nunca achei necessário aprender sobre uma língua no qual eu já sei o suficiente. Acreditava que tudo o que aprendo nesta matéria poderia ser usado somente para pessoas que querem seguir alguma carreira como escritor ou jornalismo.
Vi Dylan entrar em sua sala, no qual era matemática. Pelo pouco que o conhecia, sabia que ele não era bom na matéria, mas esforçava-se para não ficar reprovado. Um ano atrás, estava eu, Cora e Dylan num grupo de estudo na biblioteca, onde mencionei a palavra à Dylan pela primeira vez desde que o conhecera somente de vista. De cara, me simpatizei com o mesmo e desejei toda a felicidade para ele e Cora que era tão legal quanto Dylan. Ainda não sei quem teria coragem de fazer uma barbaridade como essa.
Antes
“Sabe o que poderia melhorar o desempenho dos alunos em matemática?” Cora me perguntou. “Sabe a prova que teremos semana que vem?”
“A que irá classificar o desempenho das escolas?” Dylan perguntou, e Cora assentiu. “Ah! O que tem essas provas? Só sabemos que vai ser meio que um terror.”
“Eu estava pensando...”
“Qual é a ideia agora?” Cora olhou para Dylan e deu um tapa em sua cabeça. “Ai”
“Poderíamos dar um prêmio para o aluno que tirar a melhor nota!?”
“Certo! Agatha, o que você quer ganhar?”
“Eu?”
“Deixe de ser besta, Dylan!” Ela rolou os olhos. “Podemos dar... deixa eu ver... uma caixa de bombons ou até mesmo uma blusa do Green Day ou do Justin Bieber.”
“Quem vai querer a blusa do Bieber?” Dylan falou com sarcasmo.
“As meninas, seu cabeção!”
“Ou então uma oportunidade de demonstrar o seu talento no baile de primavera” Comentei. “As pessoas terão mais interesse em serem mais reconhecidos pela escola, talvez isso faça-os estudar mais um pouco para tirar boas notas.”
“Agatha, você é uma gênia!”
Agora
Não sabia quanto tempo passei pensando, mas acho que provavelmente a aula inteira. Quando dei por mim, as pessoas já saiam para ir as suas outras aulas. Dessa vez, felizmente eu teria aula de ciências com Dylan, e desde o começo do ano letivo eu me sento com ele. Antes era normal, conversávamos um pouco e fazíamos as tarefas juntos, mas agora era diferente, Dylan não falava mais nada e não me pedia ajuda com os deveres.
Sentei em meu lugar e o esperei. Talvez agora eu conseguisse falar com ele, talvez agora eu possa consolá-lo e tentar fazê-lo voltar a ser aquela pessoa alegre e divertida que ele era antes de Cora morrer. Meus cabelos ruivos estavam indo para frente dos meus olhos por conta do vento que soprou quando o professor abriu a janela para assoar-se. Ele era assim, meio nojento e alguns momentos arrogantes. Prendi os cabelos num rabo de cavalo e preocupei-me em saber que estavam todos os alunos na sala, menos Dylan.
Eu queria ser sua amiga, queria ajuda-lo a seguir em frente. Mas parece que no momento isto está sendo a coisa mais difícil do mundo. O professor escreveu alguma coisa na lousa. Algo como: O que sabemos é uma gota; o que ignoramos é um oceano. Pelo o que eu me lembre, essa é uma frase de Isaac Newton. Escrevi aquela frase em meu caderninho, adorava escrever coisas que provavelmente teriam sentidos para mim no futuro.
— Professor?
Senti minha pele esfriar ao reconhecer a voz de quem acabara de entrar na sala. Estava nervosa, com medo e com receio se deveria contar ou não. Mas é claro que eu deveria contar! Dylan merecia saber que pelo menos alguém naquela festa pode ter visto o suposto assassino de sua namorada.
O professor o olhou com desdém enquanto Dylan sorria envergonhado.
— Atrasado!
— Me desculpe! — Dylan fechou a porta atrás de si e olhou para o professor — Eu estava na diretoria, minha mãe havia me ligado para saber se eu realmente estava bem. Posso sentar-me?
— Só desta vez!
— Obrigado.
Devagar, Dylan veio e parou ao meu lado. Afastei-me um pouco, dando espaço para ele sentar, o que fez imediatamente. Ele tentava parecer que estava bem, mas seus olhos diziam o suficiente de que ele ainda estava sofrendo com a morte da garota que ele amava. Comecei a roer as unhas, uma coisa que era raro eu fazer. O professor anotou mais algumas coisas na lousa, e por mais incrível que parecesse, Dylan estava copiando e prestando atenção na aula. Era a primeira vez que isso acontecia desde a morte de Cora.
Ele deve ter percebido que eu estava nervosa, pois olhou para mim com uma expressão preocupada.
— Agatha, você está bem?
— O quê? Sim, eu estou! Só não estou entendendo a matéria. — Menti.
— Quer ajuda? — Assenti. Dylan pareceu desconfiar um pouco, mas ignorou e começou a explicar-me sobre o sistema respiratório.
Olhei novamente para a frase escrita na lousa. Sr. Morello sempre escrevia frases de famosos cientistas antes de começar as suas aulas. Dizia que isso fazia os alunos refletirem, e aconselhava escrevê-las no caderno caso um dia precisássemos de algo para refletirmos. Não sei porque, mas parecia que essa frase realmente iria ser muito lembrada para mim daqui um tempo, eu sentia isso.
No canto da parede, perto do quadro negro, estava um memorial à Cora. Um retrato seu no qual continha a última foto que ela tirou. Usava uma blusa lilás com alguns detalhes floridos em cima, seu cabelo estava solto e havia feito bayliss. Uma tiara preta era usado como seu único acessório e o sorriso alegre dava a impressão de que ela ainda estava aqui, viva e comemorando com suas amigas por ter sido mais uma vez a rainha do baile.
— Agatha? — Novamente ouvi a voz de Dylan me tirando dos pensamentos. Era impressionante como ele estava se preocupando comigo quando ele estava sofrendo com o seu coração despedaçado em milhões de pedaços no qual certamente eram impossíveis de serem coletados e colados novamente.
— Hum...?
— Está prestando atenção? Isto vai cair na prova!
— Dylan, desculpe! Eu estava pensando em um turbilhão de coisas e nem dei muita atenção para a sua explicação. Espero que não se importe em explicar novamente, prometo não ficar no mundo da lua outra vez.
— Certo, não tem problema!
— Então, do que você estava falando mesmo?
— Agatha, eu estava pensando... Posso ir na sua casa esta tarde para estudarmos?

Um comentário: